28 de março de 2022

Academia Espírito-santense de Letras: lendo cronistas-acadêmicos

 

        Seria o cronista um lírico? Sim e não: é que, como estilo literário, a crônica conhece tantas definições que a rigor cabe tudo nesses baús de classificação criados por aí. De minha parte, sei que a leitura de Rubem Braga me suscita impressão diversa daquela da leitura de José Moysés. Da mesma maneira que a leitura de José Carlos Oliveira, se comparada à leitura de Homero Mafra. Certo, os cronistas citados são todos capixabas. Não que só os capixabas se virem bem nisso de crônica, longe disso. Mas os capixabas, sem dúvida, são craques nesses domínios da escrita, e por eles ficarei.

Nada mais repetitivo que tentar definir o que é a crônica. Talvez o correspondente ao ensaio, dentro do que se propõe cada uma das duas formas. Impressões pessoais, liberdade estilística, tudo isso cabe. Mas na crônica - e voltando à indagação inicial - cai muito bem o lirismo. Não fosse o lírico Rubem Braga o autor maiúsculo que foi - o que deve ser suficiente para convencer o leitor da afirmação que fiz.

Teço essas considerações à conta de postagem do poeta-cronista Matusalém Dias de Moura no Facebook neste 26 de março de 2022. A postagem discorre sobre a leitura das crônicas dos confrades Homero Mafra e José Moysés, todos (Matusalém inclusive) da Academia Espírito-santense de Letras. Dentre os citados incluo Eurípides Queiroz do Valle, magistrado-cronista da minha preferência entre os acadêmicos. Mas não há como discordar do mote da postagem do confrade: Homero Mafra e José Moysés são dois cronistas que merecem ser lidos. De fato – e a análise é do autor daquela postagem - ambos retratam nos textos suas experiências cotidianas, recheando-as de impressões e de ensinamentos. Para Matusalém, ele mesmo um cronista do bucolismo, descontraem, entretêm e descansam o espírito do leitor.

A leitura de Eurípides suscita outra sorte de impressões: seus textos, leves como devem ser as crônicas, são informativos e trazem sua opinião pessoal sobre o tema que o inspira. No final acabam descontraindo, entretendo e descansando o espírito do mesmo jeito. Hoje tudo isso pode ser óbvio, mas o mais moderno dentre os citados publicava há 25, 30 anos.

Daí se depreende também o espírito acadêmico de Matusalém, um divulgador desinteressado das expressões literárias que nos antecederam na nossa casa de letras. Eles estão lá, à espera de leitura que lhes ressuscite a pena. Reviver os escritos acadêmicos significa dar perenidade ao autor e realçar a Academia. É exercício esperado de quem se propõe integrar casa desse jaez, mas estamos numa altura em que se faz necessário repetir o óbvio.

Dito isto, fico com o exemplo do preclaro confrade e procurarei agora um refrigério para o espírito lendo crônica de um dos autores de minha predileção. Ao acaso percorro lombadas na estante de cronistas; salta-me aos dedos A Névoa, o Menino e o Embornal, oferecendo-se à leitura. Retiro-o da estante e, outra vez ao acaso, abro no texto “O Circo” (por coincidência, tema comum a Matusalém e Homero Mafra). Vamos, então, de Matusalém Dias de Moura. E vivam todos os – e as - cronistas da Academia Espírito-santense de Letras, que os (as) há, lá, excelentes!