Sábado
traz consigo aquele jeitão de melhor dia da semana. Relaxa-se da correria dos
dias de trabalho e de quebra tem-se pela frente o domingo, um descanso de
eventuais excessos praticados no dia livre.
Sábados
foram por muitos anos o dia quase-sacro dos encontros na extinta Livraria
Logos, na Praia do Suá. Iam todos para lá, e se fosse o caso se acomodavam à
volta da minúscula mesa. Que passava a epicentro da reunião, de onde “irradiavam”
todos pelos recantos e prateleiras de livros. Tudo à volta do “Recanto Renato
Pacheco”, na parte de trás da loja, assim batizado em honra ao frequentador que
pôs nome nos tais encontros – Sabalogos.
Foram
quase vinte e cinco anos, sábado após sábado, no mesmo horário, no mesmo local.
Ia-se quando se podia, mas a maioria dava jeito de poder sempre. Houve, sim, ausências
ao longo do tempo. Uns se mudaram, outros nos faltaram. E dada altura faltou o local,
e mudou-se o local. E houve mais ausências, daquelas definitivas, e outros afazeres
foram absorvendo aos poucos.
Dali
muitas vezes saía-se para o almoço. E eram sempre excursões gastronômicas,
porque havia connoisseurs de tudo: de vinho a massa, de cerveja a
bacalhau, de quindins a doce de leite. Era trabalhoso o processo de seleção do
local aonde iríamos: rodadas de votações, reiniciadas sempre que chegava retardatário
disposto a ir também. De alguns desses repastos lavrou-se ata, que estão pela
internet.
Vez
em quando o Facebook lembra alguma postagem - são fotos e fotos internet afora.
Vez ou outra quem saía antes do registro reclamava ao vê-lo (o registro, não a
sua pessoa) postado em rede social. Se tinha saído pra ir lá, como explicar em
casa a ausência? Toilette, claro, sugeriam. E assim qualquer atitude se recriminava,
postasse-se a foto, não se postasse a foto. Era parte da graça.
Sábado
continua a ser dia de encontro. Toma-se um café, joga-se ao vento um ou dois dedos
de prosa. Já não há é aquela obrigação, vinda da sensação de que a perda dos
momentos de convívio fosse prejudicial à saúde mental do ausente. E à paz de espírito,
se acaso guindado ao posto pouco lisonjeiro de assunto do dia.
O
que importa é a convivência. A ocupação de conversar. Robert Louis Stevenson,
autor de muita coisa além da Ilha do Tesouro, alerta no seu A
conversa e os conversadores (in Apologia do ócio e A conversa e os conversadores.
2.ª ed. Trad. Rogério Casanova. Lisboa: Antígona, 2018) para o fato de que “não
existe ambição mais razoável que a de nos notabilizarmos na arte da boa
conversa; sermos afáveis, bem-humorados, rápidos, lúcidos e generosos;
possuirmos um facto ou pensamento adequado para ilustrar qualquer assunto”. Convívio,
vê-se, é ao mesmo tempo lazer e exercício mental.
Se são
outras as circunstâncias, o espírito é o mesmo. Tome-se um café, em qualquer
lugar que seja, fale-se sobre tudo um pouco e Literatura também, estará honrado
o compromisso, estarão lembrados os velhos tempos. Afinal, é sábado, dia de
café com prosa, a fazer hora pro almoço.