11 de novembro de 2016

Uma Nova Quadra na Economia Brasileira


Em reunião do mês de agosto de 2016 do Instituto Histórico e Geográfico anoto interessante constatação de um dos presentes: ao renunciar Jânio Quadros, João Goulart voltou às pressas da China para assumir a Presidência da República, às vésperas da reviravolta que desaguaria no governo militar iniciado em 1964; impedida Dilma Roussef, Michel Temer, vice-presidente desde 31 de agosto de 2016 guindado à chefia do governo, licenciou-se imediatamente do cargo para ir à China, a uma reunião do G-20, num encontro com as maiores economias globais. Coincidência que o imenso país asiático esteja presente em dois momentos tão marcantes da vida política nacional - que é o que vale dizer, da História do Brasil. Curioso como essa coincidência revele tanto da própria política nacional nessas duas oportunidades.

Em 1964 o mundo atravessava o período de Guerra Fria, assolado por uma disputa de áreas de influência que tinha como pano de fundo interesses comerciais: óbvio que, impondo a uma região, em última análise, o seu modo de vida, a potência hegemônica encontra mercado para encaixar sua produção. O que não é nenhuma novidade, pelo contrário. Já em 2016 a situação, em tese, é outra: o escoamento de produção se pretende fazer por meio de acordos comerciais cuja entabulação e funcionamento são fiscalizados por órgãos supranacionais de controle, com poderes para sancionar governos que atentem contra as regras estabelecidas. Em que pese a influência dos maiores mercados (produtores e consumidores) sobre os menores, a convivência mais harmônica possível é desejável na medida do próprio interesse no crescimento do comércio.

A produção industrial brasileira vem decrescendo nos últimos anos; uma economia firmemente fundada na exportação de commodities é mais vulnerável à conjuntura internacional; influência do clima condiciona safras, e a produção agrícola é fortemente condicionada pelo planejamento ambiental, num sentido lato. O decréscimo ao longo dos últimos anos dos indicadores da atividade econômica é fato inconteste. Até que ponto - abstraídas daí políticas públicas que, ao priorizarem modelo de distribuição de renda fundado na concessão de crédito acabaram por descuidar da infraestrutura – pode-se debitar o encolhimento da atividade econômica à opção consciente por alinhamentos de matiz ideológica, em detrimento dos interesses estritamente comerciais?

O projeto brasileiro de protagonismo pelo exercício de liderança regional vem desde a diplomacia do Império; seguiu inalterado ao longo dos tempos, incluído o período de governo militar (para usar como termo de comparação realidade próxima das cogitações de governo, nesta quadra da vida nacional). Mas essa pretensão de liderança, a ser exercida num subcontinente afinal alinhado ideologicamente - portanto, em tese, apto a negociar com mais “poder de fogo” nos palcos internacionais -, esbarrou justamente no decréscimo da atividade econômica, que ao fim do governo Roussef tinha deslocado o Brasil de uma posição de ponta para outra de, digamos, parceria com outros centros regionais de irradiação ideológica e de ostentação militarista.

Chegando ao final um projeto de governação que deixa a meio caminho diversas políticas de alinhamento regional, o projeto instalado em agosto de 2016, que não se pode chamar novo, aparentemente procura repor o país nos trilhos da diplomacia e das relações comerciais trilhados ao longo de décadas de História republicana. Orientar o comércio utilizando-se de diretrizes não exclusivamente comerciais impede (ou deveria impedir), por exemplo, e no fim da cadeia, a proliferação de armas nas mãos de terroristas. O que, sabemos todos, não é o caso. Enfim, o certo é que essas diretrizes não devem se basear em critérios estritamente ideológicos, sob o risco bastante real da perda de mercados.

A conquista de mercado consumidor onde encaixar determinada produção é processo árduo e depende de conversações e negociações que podem se arrastar por período dilatado de tempo. Abrir mão, ou dispensar mercado, por critérios não comerciais, é jogar no lixo todo o esforço comercial e diplomático desenvolvido anteriormente. Essa é mais uma área em que os interesses de Estado devem se sobrepor aos de governo.  
  
Quanto à China, segue abrindo mercados e fazendo negócios rentáveis com parceiros de todas as latitudes. Uma parceria que o presidente recém-empossado foi tentar ampliar em nosso favor, como que fechando um ciclo na História do Brasil.