24 de julho de 2016

Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo: Século de História


Ao contrário de tempos passados, em que o ritmo da vida favorecia a acumulação de ideias e de informação, nos atuais, em que fatos se sucedem rapidamente e a informação é volátil, temos a impressão de não serem muitas as realizações humanas fadadas a perdurar. A memória do homem, cada vez mais fugaz, vai sendo inundada de novas aquisições, num fluxo atordoante de que sequer nos damos conta. Para que, então, guardar memória de tempos idos, de fatos passados e de vultos desaparecidos? Por que descuidar da vida que se desenrola ante nossos olhos para relembrar coisas pretéritas, aspectos de uma existência que não é mais a nossa?

A vida das pessoas e das sociedades é um suceder de fatos e de realizações, de experiências acumuladas que é bom que não se apaguem da memória coletiva para evitar que se repitam erros ou se percorram caminhos já trilhados. Por isso a humanidade sempre procurou guardar memória, na forma de experiência acumulada ou na de registro sistemático de fatos. Livros, documentos, toda espécie de registro tem importância capital: a de, perenizando fatos e realizações humanas, abrir espaço para que o homem memorize individualmente experiências e impressões relevantes para a sua própria vida. 

Guardar a memória coletiva da sociedade, das pessoas que viveram numa comunidade, das realizações de indivíduos em prol da coletividade, da vida comum dos demais, testemunhos de um modo de ser e de estar no mundo numa determinada época. Atividade que não é fácil, pelo muito que exige. Cuidar de registros e manuseá-los, extraindo informações que de outra maneira não seriam acessíveis, torná-las utilizáveis e fazê-las úteis aos que vivemos nos dias de hoje. Usar em nosso favor a experiência dos que nos antecederam. 

Há quem, pessoas e instituições, se dediquem profissionalmente a essa atividade; há quem, por outro lado, a ela se dedique por abnegação. Se as instituições governamentais acolhem os profissionais, e não poderia ser diferente, existem outras instituições que acolhem todos os abnegados que a isso se dedicam, profissionais ou não. Há tempos - no Brasil desde 1838 - tais instituições estão organizadas na forma de Institutos Históricos e Geográficos. Entre nós, no Espírito Santo, desde 1916.

O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo faz cem anos de fundação em 12 de junho. Com maior ou menor visibilidade ao longo dos tempos, sempre se manteve fiel à tarefa que se impôs quando da sua criação: a conservação da memória regional. Nesses cem anos, o IHGES vem integrando um ideal de produção de um conhecimento essencial, em suma, à compreensão da vida brasileira em todas as suas peculiaridades.

Hoje em dia existe uma rede de instituições autônomas instaladas nos mesmos moldes em todos os estados e em municípios importantes país afora (a exemplo do município de Vila Velha, cujo Instituto Histórico e Geográfico é nossa mais atuante instituição municipal). Sempre constituídas na forma de associação civil sem fins lucrativos, sempre prestando serviço voluntário. 

Por meio de  recursos públicos e privados  - principalmente da contribuição de seus associados - o IHGES vem realizando ao longo dos tempos um sem número de atividades culturais abertas a todos e editando a mais antiga revista em circulação no estado. Pereniza, assim, por meio de registro apropriado, fatos e realizações, a forma de ser e de estar no mundo dos capixabas, porque a memória do que somos não pode perecer. De posse dessas informações é mais fácil pensar o Espírito Santo, melhorar a vida de seu povo.

Enfim, o propósito é o mesmo, lá se vão cem anos; os tempos apenas condicionam a maneira como este é concretizado. É por isso que no IHGES ultimamente nos acostumamos a pensar nestes cem anos como “nossos primeiros cem anos”: começamos agora a percorrer os próximos.

(publicado no Caderno Pensar do jornal A Gazeta de 18/06/2016)