13 de setembro de 2015

Breves notas quase literárias (IX): o fantasma do Centro histórico de Vitória


Muito me agrada, entre as criações de Luiz Guilherme Santos Neves (comigo na foto), a figura do fantasma do centro histórico de Vitória. Meu agrado, aliás, é público, tanto que no livro Na Livraria: diversa caligrafia, narro encontro que tive (ou imaginei ter tido) com a espectral criatura nos interiores do prédio da Livraria Logos, na Praia do Suá, onde todo sábado tinha lugar o Sabalogos, até o encerramento da loja, em fevereiro de 2015.

O fantasma tem o temperamento fantasmagórico que esperamos em personagens dessa natureza – ou dessa ancheza, para nos irmos imbricando nas brumas em que se imagine interlocutor imerso num dedo de prosa com a aparição. Com efeito, a personagem trata-se de síntese feliz das vertentes em que se subdivide a obra ficcional de Luiz Guilherme, a histórica e a fantástica. Esta última, mais contemporânea, materializa-se nos volumes Cidadilha: crônica inverossímil de uma cidade inexistente (2008) e Navegação em torno da Ilha vislumbrada (2014), que têm como inspiração remota a cidade natal do autor (sem deixar de citar Memória das Cinzas (2009), diálogo em prosa com os Cantos de Fernão Ferreiro, de Renato Pacheco). 

Já na série de crônicas que tem como personagem principal o fantasma os fatos se passam com certeza em Vitória. O interesse que logo desperta vem do desencontro entre épocas históricas, que dá o tom aos diálogos entre autor e personagem. Esse desencontro se exterioriza tanto do estranhamento do interlocutor com costumes adotados pelo fantasma e não se usam mais hoje em dia como da descrição de logradouros cujos nomes eventualmente não foram mantidos desde que a personagem verdadeiramente, digamos, viveu.

Mas o ponto de maior interesse, que é onde o autor resgata essa vertente histórica que permeia toda sua obra, são as notícias de personagens e de fatos históricos que, a par do conhecimento de Luiz Guilherme da História do Espírito Santo, refere o fantasma com a naturalidade e o frescor de quem as conheceu e de quem esteve lá (o que, na maior parte das vezes, deve ter sido o caso).

Veiculadas na coluna "A Certos Respeitos", que o autor mantém no site Tertúlia Capixaba, do acadêmico-sabalogue Pedro J. Nunes, as historetas se sucedem e estão a merecer publicação em edição apartada - do que, aliás, já se inteirou o autor. Para nossa alegria.

Leia  aqui a coluna "A Certos Respeitos"