17 de maio de 2015

Breves notas quase-literárias (VIII): Historiadores da Academia


Josué Montello tem-se na conta dos principais historiadores da Academia Brasileira de Letras. Pesquisador laborioso, “fuçador” que não aquietava enquanto não tivesse em mãos a informação desejada, como resultado de suas investigações nessa seara publicou: Pequeno Anedotário da Academia Brasileira. Anedotário dos Fundadores. São Paulo: Martins Fontes, 1974, 2.ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980; Primeiras Notícias da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: ABL, 1997 e A Academia Brasileira entre o Silogeu e o Petit Trianon. Rio de Janeiro, ABL, 1997.

Montello é dos “principais historiadores” não só pela obra historiográfica em si, que a Academia é pródiga em quem lhe descubra as antiguidades. Mas pela componente de afeto que adicionou a cada trabalho seu em prol da Casa que tanto prezou e que presidiu entre 1994 e 1995.

Neste sentido, é interessante como o exercício dos cargos de gestão de uma entidade tem o poder de despertar no que o ocupa uma curiosidade saudável, o mais das vezes condicionando-o a investigações e até tentativas de síntese, histórica e institucional, que não raro vêm a público. De minha parte, as tentativas se deram não só no Notícia sobre o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (2003) mas também no “Para que tantas tradições não passem quase obscuramente”: Reflexões sobre o IHGES (2014).

A Academia Espírito-santense de Letras teve também seus historiadores, mesmo que falte, ainda, compêndio que sistematize sua história com o grau de pormenorização que é de esperar. Inobstante isto, conhecemos seus primeiros tempos graças à iniciativa de Elpídio Pimentel, primeiro ocupante da cadeira 12, cujo patrono é Gonçalo Soares da França, e o primeiro secretário da Casa, que conservou as atas das reuniões preparatórias e colecionou as notícias iniciais publicadas na imprensa local a respeito da fundação.

Adiante, e até o ano de 1944, conhecemos minúcias sobre o dia-a-dia da instituição pela obra de Eurípides Queiroz do Valle, A Academia Espírito-santense de Letras: Resenha Histórica. Primeiro ocupante da cadeira 27, cujo patrono é Afonso Cláudio de Freitas Roza, Valle é o acadêmico que por mais tempo exerceu a presidência, de 1941 a 1963. A obra citada, ele a apresenta como uma “resenha histórica da Academia Espírito-santense de Letras”, e esclarece:

“Resenha, porque é apenas uma enumeração rápida e despretensiosa de fatos”.
“Histórica, porque essa enumeração, partindo das origens da Academia (1921), vem acompanhando o seu desenvolvimento até essa segunda metade de 1944.”

 Na sessão a que chamou “Efemérides Acadêmicas” coleciona dados a respeito de fatos e de acadêmicos, que por sua importância reproduzi no volume Documentos da Academia, que organizei em 2009. Ainda, uma seção a que chamou “Bibliografia da Academia”, em que lista todas as obras de acadêmicos conhecidas naquela data. Estas duas seções, aliás, trabalhos que não tiveram seguimento - ou ao menos nada mais foi posto a prelo, dando continuidade ao trabalho de Valle.

Uma terceira seção, “Quadro Geral de Patronos e Acadêmicos”, foi desenvolvida e muito enriquecida pelo esforço de um terceiro historiador da Casa, Elmo Elton Santos Zamprogno, secretário da Academia e ocupante da mesma cadeira 27, sucedendo a Eurípides Queiroz do Valle. Em 1987, Elmo Elton publicou A Academia Espírito-santense de Letras, Casa Kosciuszko Barbosa Leão: Patronos e Acadêmicos onde, após uma breve resenha histórica, traça as linhas biográficas dos 40 patronos e os, até, então, 49 acadêmicos.

Essa monografia de Elmo Elton foi ampliada, e vem sendo atualizada desde então, por Francisco Aurélio Ribeiro, que em 2006, na sua presidência, fez publicar Academia Espírito-santense de Letras: Patronos e Acadêmicos, marcando a passagem dos oitenta e cinco anos de fundação da Casa. O trabalho encontra-se, já, em segunda edição, publicada em 2014, com os acréscimos devidos às inúmeras realizações e à sucessão de acadêmicos nos oito anos que permeiam ambas as edições.

Como registro, o meu Documentos da Academia, que referi acima, traz documentos que são fonte primária para a história da Academia, e foi concebido como uma contribuição para o trabalho de sistematização da história da Casa, trabalho que está a procurar quem dele possa se ocupar. Um dos inúmeros assuntos que merecem atenção, o da ocupação inicial das cadeiras, estudei no artigo Notas para uma História da AEL: sobre a composição inicial da Casa, publicado no número de 2010 da Revista da Academia Espírito-santense de Letras (pág. 69/79).

Que outras iniciativas venham.