Não se sabe até quando, não se sabe mesmo se vinga, o fato é que o Rio
Branco Atlético Clube vem fazendo bela campanha no campeonato estadual deste
ano da Graça de 2015. O centenário clube de Jucutuquara, desterrado sem dó nem
piedade para Campo Grande, despejado depois uma segunda vez da sua casa, mas
que do alto de sua história um tanto sombria permanece como o maior ganhador de
títulos do futebol capixaba.
Jucutuquara, berço da agremiação, é terra de nobres, o barão de Monjardim
era o proprietário de tudo aquilo nos idos do século XIX; é terra de samba, o
Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Unidos de Jucutuquara ali se criou
e se fez grande; é terra de escritores, José Carlos Oliveira, o Carlinhos
Oliveira, o Precoce, foi criado ali. Minha avó paterna, minha bisavó materna, a
circunstância da localização das residências das duas me permitiu, e muito, o
vaguear vagabundamente pelo bairro, quando mais novo. Bons tempos.
Mas o Rio Branco é dali de Jucutuquara; o quase lendário Estádio de
Zinco, cuja foto o Álvaro José Silva cedeu para ser reproduzida na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, foi a certa altura a única
casa própria de um clube capixaba. O que levou os rivais alvianis do Vitória
Futebol Clube – aliás, meses mais antigo que o alvinegro de Jucutuquara – a
trabalhar duro para construir também a sua.
Velhas histórias do futebol de Vitória, que de quebra teve um campeão
ficado pelo caminho, o saudoso, extinto, Santo Antônio Futebol Clube; velhas
histórias relembradas nestes novos tempos em que há muito despontou a ex-associação dos
ferroviários da Companhia Vale do Rio Doce, temível rival do esquadrão capa
preta.
A propósito de quê tudo isso, já vos digo: é que tive o prazer de
prefaciar a terceira edição das Recordações do Futebol de Vitória, agora assumidas pelo próprio Ivan Borgo (as duas
primeiras foram assinadas pelo heterônimo Roberto Mazzini). No livro, o autor
desfia suas memórias de jovem torcedor do Rio Branco Atlético Clube, quando as
tardes de futebol eram praticamente a única opção de lazer. Vai daí que as
arquibancadas do Estádio Governador Bley, quase um quintal da sua casa, tornam-se
privilegiado posto de observação, em que usos e costumes da época ganham vida,
de maneira leve e divertida no texto de Ivan.
Como fiz constar no prefácio, o foco do autor não é no enumerar feitos
esportivos, embora constem partidas memoráveis, e não só entre clubes capixabas.
O propósito do autor é relembrar, com gosto juvenil, coisas de uma cidade que
não existe mais, a não ser nas memórias privilegiadas que sua pena nos concede.
E assim permitir que nós próprios formemos ideia daquelas tardes de futebol,
quando ao pretexto da bola rolando se testemunhava era o palpitar da vida da
cidade.