“Convém advertir que a controvérsia faz parte da condição literária” inicia
Josué Montello uma de suas notas em Reencontro
com meus mestres: poetas e prosadores. Prossegue discorrendo sobre a
aceitação, pelo público, da obra literária, com maiores ou menores aplausos ao
autor.
Deste aspecto não cuido agora, mas da controvérsia alegre, para qualquer
autor, que vem suscitando uma das circunstâncias do meu texto: o lugar da ação
de Memória Repartida. Localizada no
noroeste do Espírito Santo, cujos territórios foram tardiamente integrados de
fato à administração estadual, a Vila, onde se desenrolam os fatos, tem muito
de cada um dos lugares daquelas longitudes, seja por sua origem e evolução, como
consta das páginas do quase-romance, seja pelos acontecimentos de que foi
testemunha.
Na orelha que escreveu para o livro, Pedro J. Nunes não tem dúvida de que
a ação se passa na Colatina de outrora. E justifica dizendo que a nenhuma outra
localidade da região como a Princesa do Norte o rio é a sua razão de ser, em
nenhuma outra “seu regime de cheias e de secas de uma forma ou de outra
continua a influir diretamente na vida do povoado”.
Argumentando, por ouro lado, com a narração de confrontos com os índios
botocudos, leitora acredita que a ação se passa na Vila Verde, distrito do município
de Pancas, onde os índios que vagavam pela região foram aldeados desde o século
XIX por determinação do Marquês de Olinda.
Colhi ainda uma terceira opinião a respeito, de leitor que acredita que a
Vila seja a de Itapina, às margens do Rio Doce, o mais majestoso rio que
atravessa aquelas paragens, uma vez que, argumenta, Colatina é expressamente
referida no desenrolar da história.
Caco Appel, em resenha publicada no site Tertúlia Capixaba, opina que “a
Vila se parece com muitas, se insinua como alguma de fácil lembrança, mas que
verdadeiramente é mítica, parte apenas da fantasia criativa do autor”. E aludindo
exatamente ao agrado que esse tipo de controvérsia causa em qualquer autor,
parece falar por este: “que, aliás, não vai se importar se o leitor a
transportar para seu local favorito da memória, seja isso Colatina ou outro
lugar qualquer”.