Em A Oferta e o Altar, de
Renato Pacheco, Duca Eleotério, o “decano dos areenses”, faz uma apologia ao
cajueiro: - “Do cajueiro tudo é útil ao homem”, diz; e segue daí desfiando as
utilidades da árvore, do caju e da castanha – esta, sim, o fruto do cajueiro.
Visitando no Recife a Casa da Cultura, na antiga prisão onde foi
executado Frei Caneca, adquiri, na excelente livraria de assuntos pernambucanos
que lá funciona, O Cajueiro Nordestino,
de Mauro Mota (1982). Monografia com que o autor se candidatou, em 1954, ao
concurso de Geografia do Brasil no Instituto de Educação de Pernambuco, trata-se
de um panorama sobre a planta em seus aspectos botânico e geográficos, mas
também – o que valoriza sobremaneira a obra – históricos, folclóricos e
literários. Creio que todos que apreciamos uma cajuada nos regalamos da
leitura.
Em Memória Repartida, a certa
altura o narrador encontra Eustáquio, o forasteiro que protagoniza os
acontecimentos, e mais a namorada, pescando na beira do rio. E para surpresa
dele, narrador, a namorada capitaneia o ritual do caju amigo - devidamente descrito
por Luiz Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco no Índice do Folclore Capixaba, e que consiste no mastigar fatias de caju,
extraindo-lhe o sumo, enquanto se bebe por cima uma dose de pinga.
Cajueiro é planta nativa do Brasil. Mota relembra passagens históricas,
como as “guerras do caju” que no nordeste as tribos do interior faziam às do litoral,
na época da frutificação, para proverem-se do fruto e seu pedúnculo. A castanha
era iguaria apreciadíssima na época colonial, o que continua a ser até hoje.
Conversando com velhos moradores recordei-me que na Praia da Costa de
antes da urbanização havia grande incidência da árvore no areal que se
estendia desde a praia. Como acontecia, da recordação de Mota, na região de Boa
Viagem, no Recife. Lá com a revogação, no tempo, do decreto de Maurício de
Nassau que proibia a derrubada, a marcha da urbanização acabou por destruir os
verdadeiros bosques de cajueiros encontradiços em várias regiões da capital
pernambucana. Por aqui, sem um Maurício de Nassau para coibir, a dizimação das
plantas nativas se fez em um curto espaço de tempo.
Mas o caju é popular mesmo em Aracaju, cidade cujo nome homenageia a planta
que lhe cobria o território. Além dos inevitáveis chaveiros e imãs de geladeira
na forma do pedúnculo do cajueiro, estando na cidade atente também para os
doces cristalizados e o excelente licor de caju que podem ser comprados no
mercado central da capital sergipana.