Lendo Reencontro com meus mestres:
poetas e prosadores, de Josué Montello, publicado pela Academia Brasileira
de Letras, deparo-me com uma passagem sobre as campanhas cívicas de Olavo Bilac;
dentre elas, a pelo serviço militar obrigatório, dando margem a lembranças do autor
sobre os seus tempos de serviço no Tiro de Guerra em Belém do Pará. Foi o
quanto me bastou para, de minha parte, recordar o Tiro de Guerra de Colatina, nos
anos de minha meninice: o TG-01-007.
Não, não servi ali. Aos meus 18 anos estava, já, fora de Colatina, prestei
concurso para o NPOR, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Sendo aprovado tanto
nas provas escritas como nas físicas, optei por pedir dispensa do serviço, do
que mais tarde acabaria me arrependendo, mesmo em época de guerra na América do
Sul, a das Malvinas. Mas esta é uma outra história.
Lendo Montello - voltemos a ele - veio-me à lembrança o velho Tiro de
Guerra de minha cidade, que eu espiava todos os dias ao me dirigir para a
escola, o Colégio Marista de Colatina; às vezes vazio, às vezes cheio
de recrutas de serviço, principalmente na minha volta para casa de mais um dia
de aula.
Com origem em 1902, os Tiros de Guerra foram institucionalizados em 1916
e formam reservistas de 2.ª categoria do Exército Brasileiro, aptos ao desempenho
de tarefas de defesa territorial e defesa civil. Trata-se, na verdade, da
continuação no tempo de instituições militares lusas, as ordenanças e milícias
coloniais, sendo a atual reserva organizada em moldes que lembram aqueles. Na prática, os Tiros de Guerra constituem uma bem
sucedida parceria entre o Exército, que fornece equipamentos, fardamento e
instrutores, e a prefeitura local, que fornece as instalações.
Nos TG a vida dos atiradores é dura, mas deixa saudades. Assim como
Montello, tinha-as meu pai, que a propósito de instrutores amiúde referia o
seu, o sargento Pilro. Este sempre me pareceu, das descrições, cioso da sua
missão de formador cívico-militar, mas sobretudo zeloso dos meios postos à sua
disposição.
Assim é que, nos exercícios de tiro, passado algum tempo de fuzilaria cerrada
por parte dos recrutas, o sargento mandava parar o tiroteio, dirigia-se até o
alvo e com uma verruma fazia-lhe um furo no centro, para prova do êxito da
instrução, declarando em alto e bom som que o objetivo do exercício tinha sido
atingido. Todos dispensados, “para não gastar mais munição do glorioso Exército
Brasileiro”.
Palavras dele, nas palavras de meu pai, que muito se ria dessas
lembranças de juventude.