Henrique Herkenhoff, Pedro Nunes, Fernando Achiamé, o autor, Ivan Borgo, Caco Appel, Carlos Campos Jr. |
Era
um dia sete de dezembro. Dia, aliás, como outro qualquer, não precedesse ele,
no calendário, o dia oito de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição, que
batizou tantas meninas Brasil afora ao longo dos tempos e é evocação da
padroeira (entre outros dignos de menção) do Botafogo de Futebol e
Regatas. E não fosse, esse dia sete de
dezembro, um sábado – portanto, dia de Sabalogos. Que, como em todos os outros
sábados, já lá se vão mais de vinte anos, realizam-se no recanto Renato Pacheco
da Livraria Logos da Praia do Suá.
Nessa
véspera da Imaculada Conceição do ano de 2013, porém, dois acontecimentos
tornaram esse encontro dos sabalógicos diferente dos demais: primeiro, a presença
de um grupo literário que atende pelo nome de “Confraria dos Bardos”, rapazes e
moças cheios das melhores intenções; porque, como rapazes e moças saudáveis,
poderiam estar a se ocupar de festas regadas a sertanejos e energéticos, mas
não, ocupam-se, também, de Literatura. O que autoriza pensar que a derrocada
final pode não estar assim tão próxima quanto supomos assistindo ao noticiário televisivo.
Recebido
o grupo literário, desfrutada sua companhia, com direito a registro digital devidamente
encaminhado ao facebook, impunha-se, então, partir para o segundo acontecimento
da sessão sabalógica diferenciada daquele dia sete de dezembro: o almoço
agendado entre os confrades.
Ora,
não é, um almoço, simples reunião de congraçamento entre amigos que se estimam
e se vêm regulamente - e, o melhor de tudo, para tratar de amenidades, de
assuntos agradáveis? Não, impõe-se a resposta. Não se tratava de simplesmente
acordar um churrasco entre amigos, que de carnes se compôs o cardápio daquele
dia. E a explicação: é que esse saudável hábito sabalógico, de uma regularidade
a toda prova em tempos pretéritos, foi sendo abandonado há tempos,
aproximadamente dez anos, como que num período de luto guardado pelo grupo em
honra dos que se foram das reuniões, todos eles muito mais capacitados, em
todos os sentidos – garfos, inclusive – que os remanescentes. Atordoados
remanescentes, diga-se, que sem os valorosos extintos a lhes capitanear as
excursões gastronômicas que se faziam uma vez por mês a pontos escolhidos da
capital, deixaram-se abater e assim dispersar aquela que talvez fosse a marca
maior dos encontros, uma extensão autorizada destes (descontado aí, Pedro
Nunes, o registro material mais perene da tertúlia, o Mulheres: diversa caligrafia).
Mas
tudo correu bem naquele dia, e para alegria do núcleo inicial de organizadores
registrou-se a adesão de outros confrades que foram se chegando de última hora,
ainda ao local da tertúlia, até que a representação gastronômica acabou fechando
em sete, como marcava o calendário. Número mágico, cabalístico, evoca mistérios
ao menos desde os tempos dos Sete Contra Tebas, mas a que – Ésquilo bem o registrou
– havia cidadela que resistisse.
Não
o estabelecimento que nos acolheu; esse não pôde resistir ao talento dos sete circunstantes
(que a essa condição se passaram então os confrades tertulianos), sempre
alertas, porque constantemente desafiados pelos espetos que traziam direto do
fogo a carne consumida de montão. Foram muitos os acontecimentos dignos de nota
naquelas pouco mais de três horas; o maior de todos, sem dúvida, a prova do
vinho, ritual arraigado, a cargo do expert,
que o temos: Ivan Borgo, que comemorava ali a distribuição (que só isso sua
modéstia permitiu) de seu recém-tirado do prelo Chão de Araguaia.
As
palestras entre os circunstantes, a presença de um coral campo-grandense (dos
campos do Mato Grosso do Sul), ciceroneado em terras capixabas pela poetisa
Valsema Rodrigues da Costa e que nos brindou a todos com um número musical, tudo
isso a se conferir na ata a cargo de Pedro J. Nunes, idealizador do encontro e secretário
dos trabalhos desde a expedição dos convites. Sua pena afiada e certeira haverá
de perenizar o quanto se passou naquela tarde, que registro perene merece esse
retorno ao hábito irrepreensível da tertúlia sabadal.
Eu
creio que alguns dos ausentes podem nos ter invejado saudavelmente naquelas
horas. Ao menos tenho para mim que alguns deles invejariam, se por aqui estivessem,
porque daqueles encontros passados me lembro muito bem de como prezavam o
vinho, o convívio, a comida, ainda que não seja essa a ordem apropriada de
enumerar as coisas, e ainda que não interesse muito qual seja.
Continuemos,
é o que se pode dizer a todos. Que os que não compareceram dessa vez possam
comparecer da próxima, que é o que esperamos - que muitas próximas ocasiões se
apesentem. Até porque, eu penso, é o retorno a essas excursões gastronômicas, ao
hábito que abandonamos não se sabe bem como, que vai realçar e valorizar o
silêncio dos garfos e facas e copos por todo esse tempo que não nos animamos a
celebrar à mesa a memória daqueles dias.
No mais, aguardemos a ata.