A
cidade de Vitória sempre foi pródiga em associações e grêmios literários,
reunindo em seus quadros o melhor da intelectualidade contemporânea –
relembrem-se o Grêmio Literário Domingos Martins, que a partir de 1932 se
reunia na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, transformando-se
depois no Centro dos Estudantes Capixabas; o Grêmio Literário Ruy Barbosa, a
Academia Espírito-santense dos Novos, o Centro Acadêmico da Faculdade de
Farmácia e Odontologia, o Centro Acadêmico José Marcelino, da Faculdade de
Direito. Sucedendo no tempo a todas essas associações foi criada em 1946 a
Academia Capixaba dos Novos, por inspiração de Renato Pacheco, Nélio Faria
Espíndula, Antenor de Carvalho e Orlando Cariello.
Era
aquela segunda metade da década de 40 um período de grandes transformações, com
o fim da Segunda Guerra a nível mundial e da ditadura de Getúlio Vargas a nível
nacional. Em Vitória os jovens com pendores para as letras reuniam-se no Bar
Estrela e no Café Avenida, onde se discutia política, literatura e os lances
finais da Grande Guerra, de que o Brasil naqueles dias via voltar vitoriosa a
sua Força Expedicionária.
Para
proveito dos que se interessam pela cultura do Espírito Santo o desembargador Romulo
Salles de Sá, um daqueles jovens idealistas da Vitória de então, resolveu
reunir um feixe de lembranças próprias às de antigos companheiros e assim
compor um mosaico da Academia Capixaba dos Novos, recordando um período de
verdadeiro fausto cultural local que se deveu, em grande parte, à atuação da
associação. Dela, aliás, o desembargador Eurípides Queiroz do Valle, presidente
da Academia Espírito-santense de Letras e protetor da casa, dizia ser “a porta
de entrada” da Academia maior.
E
registre-se para a história da cultura capixaba que assim foi, e neste ponto
cito o autor: “Ad majora nati’ – nascida para coisas
maiores, a novel entidade cultural desde cedo firmou-se como incentivadora de
vocações, ao abrigar sob sua tenda de trabalho as inteligências novas que se
iam revelando”. De fato, a maior parte dos jovens acadêmicos de 46
integrou depois a Academia Espírito-santense de Letras. No que, aliás, também
foram eles precedidos pelo talento precoce de um de seus idealizadores, Renato José
Costa Pacheco, meu antecessor na Cadeira 33 da AEL.
Nestas
páginas, uma crônica da história da Academia Capixaba dos Novos e a lembrança de
suas realizações materiais. Que, para além da gestação de futuros intelectuais
brilhantes, de fato foram muitas, num muito curto período: as atividades entrariam
em declínio já em 1952, com a formatura da turma IV Centenário de Vitória do
curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito do Espírito Santo.
Para os jovens acadêmicos era hora de começar a vida adulta e muitos deles o
foram fazer fora daqui – foi o caso, além de José Carlos Oliveira, o mais
notório, do meu tio Romulo Augustulo de Oliveira Neves, do quadro de
correspondentes da casa, que no Rio de Janeiro, onde foi viver, transformou-se
no poeta maiúsculo de que se tem breve amostra adiante.
Quanto
ao autor, o desembargador Romulo Salles de Sá, era ele o presidente do Tribunal
de Justiça quando iniciei, como estagiário, a minha vida no Poder Judiciário do
Espírito Santo. Hoje, já mais de vinte anos passados, tenho a honra de me
sentar ao seu lado no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e na
Academia Espírito-santense de Letras, casas que o sempre jovem acadêmico ilustra
com o seu exemplo e a sua produção intelectual. E o prazer de, com sua
permissão, poder juntar a suas lembranças estas singelas linhas de homenagem a
tantos ilustres antecessores no interesse pela literatura.
Alvino
Gatti, cronista destacado numa terra de cronistas de destaque, captou com
propriedade numa crônica de 1980 as marcas que naquele punhado de jovens
ficaram das reuniões dos sábados à tarde na sede da Academia Espírito-santense
de Letras, a quem os ideais da juventude irmanaram e reuniram num “aglomerado de poetas, sonhadores, escritores ou coisa
equivalente”, tornando-os, de fato, em “artífices de sonhos”.
É gratificante chegar tão longe na caminhada da vida e poder ainda
se reconhecer nos sonhos de juventude. O autor, um eterno jovem acadêmico,
pode, sim, fazê-lo. E neste caso para proveito nosso, os seus leitores.
(Agradeço ao desembargador Romulo Salles de Sá o convite para prefaciar seu livro)