Em
12 de junho transcorreu o 97.º aniversário de fundação do Instituto Histórico e
Geográfico do Espírito Santo, a Casa do Espírito Santo. 12 de junho é o dia do
fuzilamento, na Bahia, de Domingos José Martins, patrono do IHGES, capixaba que
foi um dos líderes de movimento que antecedeu a independência do Brasil, a
Revolução Pernambucana de 1817.
A
fundação da casa, em 1916, ocorreu em um momento singular da história do Espírito
Santo: nos anos iniciais do século XX, as rendas do café proporcionavam
prosperidade nunca antes vista; o governo Jerônimo Monteiro incrementou o
desenvolvimento do Estado e mudou as feições da cidade de Vitória, que perdeu
os ares coloniais com o retraçado de ruas e a abertura de novos logradouros.
Marcondes Alves de Souza, sucessor de Monteiro, visitou todo o Estado,
procurando conhecer de perto os problemas de cada região. O Espírito Santo se
reinventava.
A
disputa política da época desaguou, na sucessão de Marcondes Alves de Souza,
numa desavença de proporções também inéditas: Bernardino Monteiro, irmão de
Jerônimo, venceu as eleições contra Pinheiro Jr. Este, não aceitando a derrota
nas urnas, instalou em Colatina, a 23 de maio de 1916, um governo paralelo, sob
o comando do coronel Alexandre Calmon, que se manteria até o dia 29 de junho do
mesmo ano.
Em
plena 1ª Guerra Mundial, num surto desenvolvimentista sem precedentes, sem
dúvida era aquele um momento singular na história do Espírito Santo. E no
Espírito Santo de então, orgulhoso de suas realizações contemporâneas, surgia a
necessidade de resgatar do passado os seus feitos, para valorizá-los perante
seus habitantes, a força motriz do seu progresso, e para valorizar-se no
cenário nacional.
Em
1838 a jovem nação brasileira conhecera demanda semelhante, e os dirigentes e
realizadores contemporâneos, reunidos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional,
instalaram no Rio de Janeiro um grêmio de letras para dar suporte às
realizações que vinham desenvolvendo. Letras histórico-geográficas, de molde a
levantar as peculiaridades locais de cada recanto do Império, conhecer-lhes as
tradições e assim buscar sua integração no todo da nação, facilitando o
planejamento de ações de interesse comum. O Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, cumprindo essa função ao longo de seus 175 anos de funcionamento, é
a prova de que essa demanda, de conhecer para proporcionar o realizar, não se
exaure com o suceder das gerações, pelo contrário. E por aqui a iniciativa de
Carlos Xavier Paes Barreto, Antônio Francisco de Athayde e Archimimo Martins de
Matos, os idealizadores do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo,
deu frutos que se colhem ainda hoje.
Nos
tempos atuais é comum a indagação – mas o que faz o Instituto Histórico e
Geográfico? Na prática, reuniões semanais para debates, e mais palestras, mesas
redondas, ciclos de estudos, comemorações de tradições que não é conveniente
que morram, pena de se mutilar nossa identidade, e publicações. O IHGES instiga
o pesquisador e fomenta seus esforços, dando a conhecê-los por meio de suas
inciativas e, principalmente, de sua Revista.
Esta,
a Revista do Instituto Histórico e
Geográfico do Espírito Santo, com o sexagésimo oitavo número publicado, é o
mais antigo periódico em circulação no Estado. Suas páginas são um repositório
de informações e de ideias que não conhece paralelo entre nós. Reunindo
escritos das mais variadas vertentes nos estudos sobre o Espírito Santo, sua
importância é atestada pela quantidade crescente de citações e referências a
trabalhos nela publicados.
Em
suma, no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo pensa-se o Espírito
Santo. Por meio do resgate de fatos, de dados, de informações, sua análise e
contextualização, a cada reunião põe-se em prática o ideal dos fundadores, de
dotar nosso Estado de um espaço voltado para ele, tendo ele próprio como objeto
de estudo e cogitações.
O
surto desenvolvimentista do Espírito Santo se revigora hoje, como na época da
fundação. Se é função dos governos constituídos fomentar desenvolvimento, essa
atividade não pode prescindir da participação da sociedade. Como segmento da
sociedade organizada, o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo vem
sendo interveniente de peso nesse processo desde 1916. Longe de ser a única
instância de participação nesses moldes, o IHGES é instância privilegiada, no
mínimo pela soma de realizações na sua quase centenária história.
(publicado no Caderno Pensar, de A Gazeta de 15/06/2013)