Hotel Senac, 2008: Sérgio Bichara, Pedro J. Nunes, Ivan Borgo, Getulio Neves, Michel Minassa Jr., Luiz Guilherme Santos Neves, Paulo Stuck Moraes, Gabriel Bittencourt, Reinaldo Santos Neves. Quase todos sabalógicos.
Desde 1989. Nasceu de um encontro casual entre João Bonino Moreira e Sérgio Bichara. Ambos muito “sistemáticos” mas que, surpreendentemente, não se estranharam naquele dia de maio em Vitória. Estavam na Livraria Logos da Praia do Suá, e o assunto entre os dois, não de forma surpreendente (porque estavam numa livraria), foi livros.
Constatadas por ambos as similaridades de gostos aquele foi, então, um embrião. A eles (provavelmente porque só haveria por ali uma mesa) foram-se juntando outros: Pedro J. Nunes, Carlos Wilson Lugon, Francisco Grijó e José Neves. Depois vieram Renato Pacheco, Luis Guilherme e Reinaldo Santos Neves, Ivan e Ivantir Borgo, Henrique Herkenhoff, Miguel Depes Tallon, Vitor Biasutti, Carlos Teixeira Campos Jr., Fernando Achiamé, Michel Minassa Jr., Léa Brígida de Alvarenga Rosa, Getulio Neves, Álvaro José Silva.
Há quem diga tratar-se de uma sucessão, no tempo, das reuniões que se realizavam na Livraria Âncora, de Nestor Cineli, ali na velha loja aos pés da Cidade Alta, nos idos dos anos 60. Reuniões de intelectuais de Vitória e visitantes do interior e exterior do Estado, todos com interesses parecidos. Que seja. Mas o nome da vintenária tertúlia surgiu foi da ideia da junção do termo “Sabadoyle” (criado por Raul Bopp para as reuniões que se faziam nos sábados à tarde na casa de Plínio Doyle, no Rio de Janeiro), com o nome do lugar que sedia os encontros. Foi um achado de Renato Pacheco.
Falava-se e fala-se de tudo e de literatura também. Saía-se, geralmente uma vez por mês, em excursão gastronômica aos restaurantes da cidade, de que se lavrava a ata respectiva, ad perpetuam rei memoriam. Os registros encontram-se sob a guarda de Sérgio Bechara. Uns são frequentadores assíduos, outros bissextos. Há os que não frequentam mais, ou porque se mudaram de Vitória ou porque nos deixaram para sempre. Caso de João Bonino, um dos fundadores. Ou um outro desses faltantes, que entre tantos legados que deixou, dá nome ao recanto da livraria Logos, do Silvio Foli, onde acontecem os encontros todos os sábados pela manhã: Recanto Renato Pacheco.
Não se trata de um recanto para recitar poesia. Não se fala só em literatura, nem somente em assuntos de trabalho – uma grande parte é de “cultores do Direito”, juízes e advogados. Mas há também jornalistas, professores, engenheiros, servidores públicos. A maioria escritores. Todos eles leitores. Fala-se de política, futebol, religião, contam-se anedotas – o campeão é Pedro Nunes, ungido por Renato Pacheco pelas habilidades de sonoplasta de que lança mão para dramatizar os casos (Renato não almoçava no sábado sem antes ouvir um chiste do autor de Vilarejo e de Aninhanha). Fala-se ali até em mulheres, mas como objeto literário.
Aliás, foi daí que surgiu a ideia da publicação de um livro de contos dos tertulianos, o Mulheres: diversa caligrafia, organizado pelo Pedro Nunes e que, de 1995, vem a ser a única iniciativa do grupo no campo literário nesses anos todos. Uma pena, porque a produção é de alto nível: Adilson Vilaça, Carinhos de Solidão Lilás; Francisco Grijó, Todos os poemas para Thereza; Luis Guilherme Santos Neves, Alegres noites na casa de Dom Barão; Pedro J. Nunes, Mariposa noturna em veranico de Maio; Reinaldo Santos Neves, Juliana e Dom Jorge ou Com o perdão da má palavra; Renato Pacheco, Dedé Caetano e Sebastião Lyrio, Anjos, morcegos etc. Com direito a Prelúdio de Roberto Mazzini.
Diz o Pedro, idealizador e organizador, em nota inicial ao livro, que todos os pormenores foram discutidos “nas barbas dos demais parceiros de sábado e café, Bonino, Zé Neves, Sérgio e Lugon, que não escrevem, mas leem, e ficaram cobrando o livro o tempo inteiro”. E que os autores/sabalógicos, “parceiros de ofício e apreciadores do tema” versado no título só fizeram deitar “na brancura do papel um dos muitos assuntos que lhes torna as manhãs de sábado quase infinitas”. Aí está, registrado por autoridade reconhecida em Sabalogos, a variedade dos temas de discussão. Quod erat demonstrandum.
Esse esforço de demonstração porque pode ser que, em mais um aniversário da tertúlia, surja quem queira publicar outra reportagem que a trate como um dos grupos de leitores, para leitura, que existem na cidade. Nada contra, nem os grupos nem o fato de mais uma reportagem, se sair. Mas é bom registrar que ali não há regras. Não há pauta, não há obrigatoriedade de desenvolver atividades, de declamar, de comentar, de estudar assuntos predeterminados. Há a obrigação, sim, de parlamentar, de conviver. Não é muito em termos de obrigação, mas convive-se em alto nível.
Como todo grupo lendário que se preze, existem já mistérios e tradições que o cercam. Ali no Recanto Renato Pacheco vê-se na parede uma caricatura do pessoal contemporâneo reunido, sentado à mesa. Alguns dos retratados já se foram, e o misterioso é que o ir-se tem atendido, por enquanto, à ordem em que foram desenhados pelo artista, das extremidades para o centro da mesa. Por conta disso, há propostas veementes pelos “da vez” de mandar refazer o quadro, não apoiadas por quem está colocado mais ao centro (e, por via das dúvidas, não aceita mudar de assento).
Enquanto isso, fala-se do tempo que passa e da amizade que fica.
Constatadas por ambos as similaridades de gostos aquele foi, então, um embrião. A eles (provavelmente porque só haveria por ali uma mesa) foram-se juntando outros: Pedro J. Nunes, Carlos Wilson Lugon, Francisco Grijó e José Neves. Depois vieram Renato Pacheco, Luis Guilherme e Reinaldo Santos Neves, Ivan e Ivantir Borgo, Henrique Herkenhoff, Miguel Depes Tallon, Vitor Biasutti, Carlos Teixeira Campos Jr., Fernando Achiamé, Michel Minassa Jr., Léa Brígida de Alvarenga Rosa, Getulio Neves, Álvaro José Silva.
Há quem diga tratar-se de uma sucessão, no tempo, das reuniões que se realizavam na Livraria Âncora, de Nestor Cineli, ali na velha loja aos pés da Cidade Alta, nos idos dos anos 60. Reuniões de intelectuais de Vitória e visitantes do interior e exterior do Estado, todos com interesses parecidos. Que seja. Mas o nome da vintenária tertúlia surgiu foi da ideia da junção do termo “Sabadoyle” (criado por Raul Bopp para as reuniões que se faziam nos sábados à tarde na casa de Plínio Doyle, no Rio de Janeiro), com o nome do lugar que sedia os encontros. Foi um achado de Renato Pacheco.
Falava-se e fala-se de tudo e de literatura também. Saía-se, geralmente uma vez por mês, em excursão gastronômica aos restaurantes da cidade, de que se lavrava a ata respectiva, ad perpetuam rei memoriam. Os registros encontram-se sob a guarda de Sérgio Bechara. Uns são frequentadores assíduos, outros bissextos. Há os que não frequentam mais, ou porque se mudaram de Vitória ou porque nos deixaram para sempre. Caso de João Bonino, um dos fundadores. Ou um outro desses faltantes, que entre tantos legados que deixou, dá nome ao recanto da livraria Logos, do Silvio Foli, onde acontecem os encontros todos os sábados pela manhã: Recanto Renato Pacheco.
Não se trata de um recanto para recitar poesia. Não se fala só em literatura, nem somente em assuntos de trabalho – uma grande parte é de “cultores do Direito”, juízes e advogados. Mas há também jornalistas, professores, engenheiros, servidores públicos. A maioria escritores. Todos eles leitores. Fala-se de política, futebol, religião, contam-se anedotas – o campeão é Pedro Nunes, ungido por Renato Pacheco pelas habilidades de sonoplasta de que lança mão para dramatizar os casos (Renato não almoçava no sábado sem antes ouvir um chiste do autor de Vilarejo e de Aninhanha). Fala-se ali até em mulheres, mas como objeto literário.
Aliás, foi daí que surgiu a ideia da publicação de um livro de contos dos tertulianos, o Mulheres: diversa caligrafia, organizado pelo Pedro Nunes e que, de 1995, vem a ser a única iniciativa do grupo no campo literário nesses anos todos. Uma pena, porque a produção é de alto nível: Adilson Vilaça, Carinhos de Solidão Lilás; Francisco Grijó, Todos os poemas para Thereza; Luis Guilherme Santos Neves, Alegres noites na casa de Dom Barão; Pedro J. Nunes, Mariposa noturna em veranico de Maio; Reinaldo Santos Neves, Juliana e Dom Jorge ou Com o perdão da má palavra; Renato Pacheco, Dedé Caetano e Sebastião Lyrio, Anjos, morcegos etc. Com direito a Prelúdio de Roberto Mazzini.
Diz o Pedro, idealizador e organizador, em nota inicial ao livro, que todos os pormenores foram discutidos “nas barbas dos demais parceiros de sábado e café, Bonino, Zé Neves, Sérgio e Lugon, que não escrevem, mas leem, e ficaram cobrando o livro o tempo inteiro”. E que os autores/sabalógicos, “parceiros de ofício e apreciadores do tema” versado no título só fizeram deitar “na brancura do papel um dos muitos assuntos que lhes torna as manhãs de sábado quase infinitas”. Aí está, registrado por autoridade reconhecida em Sabalogos, a variedade dos temas de discussão. Quod erat demonstrandum.
Esse esforço de demonstração porque pode ser que, em mais um aniversário da tertúlia, surja quem queira publicar outra reportagem que a trate como um dos grupos de leitores, para leitura, que existem na cidade. Nada contra, nem os grupos nem o fato de mais uma reportagem, se sair. Mas é bom registrar que ali não há regras. Não há pauta, não há obrigatoriedade de desenvolver atividades, de declamar, de comentar, de estudar assuntos predeterminados. Há a obrigação, sim, de parlamentar, de conviver. Não é muito em termos de obrigação, mas convive-se em alto nível.
Como todo grupo lendário que se preze, existem já mistérios e tradições que o cercam. Ali no Recanto Renato Pacheco vê-se na parede uma caricatura do pessoal contemporâneo reunido, sentado à mesa. Alguns dos retratados já se foram, e o misterioso é que o ir-se tem atendido, por enquanto, à ordem em que foram desenhados pelo artista, das extremidades para o centro da mesa. Por conta disso, há propostas veementes pelos “da vez” de mandar refazer o quadro, não apoiadas por quem está colocado mais ao centro (e, por via das dúvidas, não aceita mudar de assento).
Enquanto isso, fala-se do tempo que passa e da amizade que fica.