No dia 16 de abril, durante os trabalhos do I Encontro de Escritoras Capixabas, na Assembleia Legislativa do Estado, o professor Francisco Aurélio Ribeiro lançou A Literatura no Espírito Santo: Ensaios, História e Crítica.
Doutor em Literatura, cronista, pesquisador e presidente da Academia Espirito-santense de Letras, o autor reúne nesse volume ensaios sobre a literatura produzida no Espírito Santo, discorrendo sobre sua evolução histórica e analisando-a criticamente.
Dentre os protagonistas do trabalho da escrita literária entre nós, põe em relevo, no texto Juristas-Literatos: Construtores da Cultura Acadêmica Capixaba, juristas capixabas ou que aqui vieram viver, trabalhar, produzir, e que paralelamente à sua atuação na vida pública deixaram para a posteridade suas obras literárias. Chama-lhes o autor, juntamente a administradores públicos do quilate de Muniz Freire, de Jerônimo Monteiro e de Florentino Avidos, de os fundadores das bases da modernidade capixaba. Para que contribuíram os primeiros também com suas obras, seus escritos, suas idéias.
Referindo inicialmente quinze autores, que de seu labor literário podem ser chamados literatos em sentido estrito, o autor destaca a obra de Afonso Cláudio, de Carlos Xavier Paes Barreto, de Augusto Lins e de Eurípides Queiroz do Valle; três deles, à exceção de Lins, desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado, professores da Faculdade de Direito e todos pertencentes aos quadros do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras. Palavras do autor:
“Afonso Cláudio e Carlos Xavier Paes Barreto, por exemplo, foram mais pesquisadores das ciências jurídicas, humanas e sociais que literatos, mas também deixaram produções poéticas e ficcionais esparsas.[...]
Augusto Lins e Eurípedes Queiroz do Valle foram os mais extraordinários intelectuais de seu tempo, comparáveis a Afonso Cláudio e a Carlos Xavier Paes Barreto. Polígrafos, ambos escreveram uma vasta obra de conhecimento jurídico, histórico, sociológico e literário, além de possuírem uma capacidade extraordinária de liderança e disposição para criar, dirigir e presidir órgãos e instituições. Foram ambos presidentes do IHGES e da AEL. Augusto Lins foi um dos maiores especialistas da obra Canaã, de Graça Aranha, e um de seus recriadores em verso, e Eurípedes Valle um pesquisador apaixonado do Espírito Santo e dos capixabas ilustres.”
Francisco Aurélio associa esse labor literário dos enfocados à atuação das instituições que integravam, como já dito, o Instituto Histórico e Geográfico, a Academia de Letras e a Faculdade de Direito, embrião da Universidade Federal.
E nos força a concluir, da meditação do exemplo dos enfocados no texto, que não é descabido que os juristas, os juízes, em especial, possam contribuir também de outra maneira que não a sua função judicante para a vida da sociedade. No caso específico da produção literária, sua atividade profissional, desgastante e absorvente, não deveria esgotar toda sua curiosidade e amor ao estudo.
As dificuldades existem em cada época; alguns as conseguem superar com êxito, outros de forma menos eficiente. Alguns deixam obras que lhes sobrevivem. No caso dos juristas-literatos estudados por Francisco Aurélio, deixaram exemplo de amor ao Espírito Santo, ao meio em que judicavam, trabalhando, também, para dar a entender a sua história e a sua gente, para o aumento do nível cultural local. Ainda das palavras do autor “[...] cem anos depois, cabe à atual geração reconhecer ou redescobrir os seus méritos, não os deixando cair no limbo do olvido.”
Com razão o autor. Mais do que isso, é exemplo que deveria frutificar.