Na carreira da judicatura há mais de dezesseis anos, pouquíssimos são os magistrados da ativa que tomo como exemplo de atuação judicante. Um desses é o amigo José Ferreira Neves Neto, companheiro de muitos anos nas tertulianas manhãs de sábado do Sabalogos, em Vitória. Nesse convívio semanal, agradável, também, porque informal, comecei aos poucos a apreciar sua prosa cativante, nos muitos causos nordestinos que contava. Como também comecei a reconhecer-lhe os conhecimentos jurídicos e a admirar-lhe a postura como magistrado.
Um tanto desinformado, só no último sábado é que soube que o amigo Zé Neves é agora o segundo desembargador federal saído das fileiras dos sabalógicos, seguindo a Henrique Geaquinto Herkenhoff. Ele, da carreira da magistratura, subiu ao TRF da 2.ª região, com sede no Rio de Janeiro; Henrique, da carreira do Ministério Público da União, promovido ao TRF da 3.ª região, em São Paulo. Ambos, também, dos quadros do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
José Ferreira Neves Neto é pernambucano de Olinda. Formou-se na histórica Faculdade de Direito do Recife, berço da corrente mais prestigiosa de pensamento jurídico brasileiro, cuja influência continua viva entre os não meramente tecnólogos do direito. De todas as resenhas publicadas sobre sua promoção consta o registro de que foi aprovado no derradeiro concurso para juiz federal substituto promovido pelo Tribunal Federal de Recursos, em 1987.
Empossado no início de 1988, judicou como juiz auxiliar da 1.ª Vara federal do Pará, de onde veio removido para Vitória, a pedido, em outubro daquele mesmo ano, passando a atuar como juiz auxiliar da então 1.ª Vara federal do Espírito Santo. Em julho de 1989 foi promovido a titular da 1.ª Vara, ali mesmo permanecendo por todo esse tempo, até sua indicação para compor a Corte federal carioca, em 27 de maio de 2010.
Foi guindado ao Tribunal, pelo presidente da República, no dia 30 de junho. Depois de vinte e dois anos de judicatura, José Ferreira Neves Neto, o decano da Seção Judiciária do Espírito Santo, chega ao segundo grau pelas portas seguras da antiguidade. Homem íntegro e juiz competente que é, foi indicado à unanimidade pelo plenário da Corte para a vaga aberta pela aposentadoria do desembargador federal Paulo Freitas Barata. Tomou posse no dia 05 de julho último.
Freqüentador rigoroso e antiquíssimo do Sabalogos. Leitor assíduo e um entusiasta da história de Florença. Pernambucano da gema e capixaba de coração. É mais um que levará um pouco da cultura do Espírito Santo e das idéias dos capixabas por aí, por esse Brasil afora.
Para mim, sábado passado, a sensação que ficou foi aquele misto de sentimentos de que estamos acostumados a ouvir falar nos tribunais por ocasião das aposentadorias de quem cumpriu o seu ciclo. Sentimentos estes que não podemos traduzir de outra forma: a alegria que compartilhamos com quem se vai pelo fato do dever cumprido nessa parte da jornada; a tristeza que fica pela partida do amigo.
Nosso companheiro promete estar em Vitória quinzenalmente, aos fins de semana, por conta de afazeres que lhe sobraram aqui, junto ao núcleo cultural da Justiça Federal. Pouco egoístas que somos, concordamos (porque afinal não há outro remédio) compartilhar seu convívio com eventuais bons prosadores cariocas. Mas sabemos que, nos sábados que não estiver por aqui, Zé Neves na certa estará pensando no que estaremos falando na Logos, se estaremos contando alguma a seu respeito...
Parabéns, amigo Magistrado. Que Deus continue a iluminá-lo.