15 de junho de 2013

Uma Instituição quase centenária: os 97 anos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo



Em 12 de junho transcorreu o 97.º aniversário de fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, a Casa do Espírito Santo. 12 de junho é o dia do fuzilamento, na Bahia, de Domingos José Martins, patrono do IHGES, capixaba que foi um dos líderes de movimento que antecedeu a independência do Brasil, a Revolução Pernambucana de 1817. 

A fundação da casa, em 1916, ocorreu em um momento singular da história do Espírito Santo: nos anos iniciais do século XX, as rendas do café proporcionavam prosperidade nunca antes vista; o governo Jerônimo Monteiro incrementou o desenvolvimento do Estado e mudou as feições da cidade de Vitória, que perdeu os ares coloniais com o retraçado de ruas e a abertura de novos logradouros. Marcondes Alves de Souza, sucessor de Monteiro, visitou todo o Estado, procurando conhecer de perto os problemas de cada região. O Espírito Santo se reinventava. 

A disputa política da época desaguou, na sucessão de Marcondes Alves de Souza, numa desavença de proporções também inéditas: Bernardino Monteiro, irmão de Jerônimo, venceu as eleições contra Pinheiro Jr. Este, não aceitando a derrota nas urnas, instalou em Colatina, a 23 de maio de 1916, um governo paralelo, sob o comando do coronel Alexandre Calmon, que se manteria até o dia 29 de junho do mesmo ano.

Em plena 1ª Guerra Mundial, num surto desenvolvimentista sem precedentes, sem dúvida era aquele um momento singular na história do Espírito Santo. E no Espírito Santo de então, orgulhoso de suas realizações contemporâneas, surgia a necessidade de resgatar do passado os seus feitos, para valorizá-los perante seus habitantes, a força motriz do seu progresso, e para valorizar-se no cenário nacional.

Em 1838 a jovem nação brasileira conhecera demanda semelhante, e os dirigentes e realizadores contemporâneos, reunidos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, instalaram no Rio de Janeiro um grêmio de letras para dar suporte às realizações que vinham desenvolvendo. Letras histórico-geográficas, de molde a levantar as peculiaridades locais de cada recanto do Império, conhecer-lhes as tradições e assim buscar sua integração no todo da nação, facilitando o planejamento de ações de interesse comum. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cumprindo essa função ao longo de seus 175 anos de funcionamento, é a prova de que essa demanda, de conhecer para proporcionar o realizar, não se exaure com o suceder das gerações, pelo contrário. E por aqui a iniciativa de Carlos Xavier Paes Barreto, Antônio Francisco de Athayde e Archimimo Martins de Matos, os idealizadores do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, deu frutos que se colhem ainda hoje.

Nos tempos atuais é comum a indagação – mas o que faz o Instituto Histórico e Geográfico? Na prática, reuniões semanais para debates, e mais palestras, mesas redondas, ciclos de estudos, comemorações de tradições que não é conveniente que morram, pena de se mutilar nossa identidade, e publicações. O IHGES instiga o pesquisador e fomenta seus esforços, dando a conhecê-los por meio de suas inciativas e, principalmente, de sua Revista.

Esta, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, com o sexagésimo oitavo número publicado, é o mais antigo periódico em circulação no Estado. Suas páginas são um repositório de informações e de ideias que não conhece paralelo entre nós. Reunindo escritos das mais variadas vertentes nos estudos sobre o Espírito Santo, sua importância é atestada pela quantidade crescente de citações e referências a trabalhos nela publicados.

Em suma, no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo pensa-se o Espírito Santo. Por meio do resgate de fatos, de dados, de informações, sua análise e contextualização, a cada reunião põe-se em prática o ideal dos fundadores, de dotar nosso Estado de um espaço voltado para ele, tendo ele próprio como objeto de estudo e cogitações.

O surto desenvolvimentista do Espírito Santo se revigora hoje, como na época da fundação. Se é função dos governos constituídos fomentar desenvolvimento, essa atividade não pode prescindir da participação da sociedade. Como segmento da sociedade organizada, o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo vem sendo interveniente de peso nesse processo desde 1916. Longe de ser a única instância de participação nesses moldes, o IHGES é instância privilegiada, no mínimo pela soma de realizações na sua quase centenária história. 


(publicado no Caderno Pensar, de A Gazeta de 15/06/2013)